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Mais que troféus: caminhos para o Brasil conquistar o mundo do cinema

Artigo

Mais que troféus: caminhos para o Brasil conquistar o mundo do cinema

Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho dançando frevo no tapete vermelho de Cannes e, esta semana, no festival de cinema ao ar livre em frente ao Museu do Louvre. O discurso emocionante de Walter Salles no Oscar. Fernanda Torres no sofá de Jimmy Kimmel. Rodrigo Santoro, Denise Weinberg e Gabriel Mascaro erguendo o Urso de Prata no palco do Festival de Berlim. O cinema brasileiro atravessa um raro e poderoso momento de protagonismo global, impulsionado por uma sequência de conquistas que projetam imagens simbólicas — e nada disso é fruto do acaso.

Narrativas como “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, e “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, acumularam prêmios nos principais festivais do mundo. O reconhecimento não surge apenas da excelência criativa, mas também da maturação de uma cadeia produtiva que, apesar das dificuldades históricas, vem se reorganizando para sustentar um legado mais duradouro.

A vitória do longa-metragem de Walter Salles no Oscar, em março, despertou a pergunta inevitável: qual será o próximo filme brasileiro com chances de chegar lá? A resposta não tardou a surgir com a consagração dos dois cineastas pernambucanos. Mas, além do brilho dos prêmios, há outra conquista significativa — embora ocorrida longe dos tapetes vermelhos e troféus reluzentes — que também deve ser celebrada: o Brasil foi convidado para ser o País de Honra na última edição do Marché du Film, o mercado de negócios do Festival de Cannes em maio.

Com a maior delegação brasileira da história — cerca de 350 profissionais credenciados e quase 500 presentes —, o país ocupou posição de destaque em um dos mais influentes fóruns internacionais do setor audiovisual. Da articulação com fundos que aportam recursos em filmes ao contato com coprodutores, da contratação de um agente de vendas à parceria para o lançamento. Estar no Marché du Film é uma oportunidade única de garantir que um filme nacional ganhe mais visibilidade e alcance mais telas no exterior, como no caso do longa de Mendonça Filho, que teve os direitos de venda nos Estados Unidos adquiridos pela Neon, logo após sua exibição.

Organizada pelo Ministério da Cultura e pelo Ministério das Relações Exteriores, a presença brasileira em Cannes integrou as celebrações dos 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e França. Mais do que uma ação institucional, o que se viu nos estandes e nas ruas da cidade foi uma demonstração de alinhamento e de articulação entre atores públicos e privados do setor, que levou cineastas, produtores e representantes do setor audiovisual para um spotlight internacional.

Os frutos começaram a ser colhidos lá mesmo: o Projeto Paradiso se uniu à Spcine, à RioFilme e ao fundo holandês Hubert Bals Fund para lançar um fundo de apoio ao desenvolvimento de longas brasileiros, com investimento de 90 mil euros. A Spcine também anunciou um acordo inédito de coprodução com a África do Sul e vimos, ainda, a Secretária do Audiovisual, Joelma Gonzaga, confirmar que a ratificação do acordo de coprodução audiovisual entre Brasil e França deve ser assinada este ano pelo presidente Lula.

Embora essas conquistas tenham vulto, é fundamental lembrar que esses esforços não podem se encerrar nos tapetes vermelhos. A internacionalização do cinema brasileiro não deve ser vista como um bônus eventual, mas como parte essencial da estratégia de crescimento do setor. Ter conseguido este destaque em Cannes é importante, mas o desafio maior é manter essa presença de forma contínua, sustentável e qualificada.

Afinal, há algo que une os filmes de Salles, Mendonça Filho e Mascaro, além dos prêmios e do talento: todos são coproduções internacionais. Esse modelo, que agrega financiamento, conhecimento técnico e circulação global, é hoje não apenas desejável, mas necessário para que o cinema brasileiro continue a ocupar seu lugar no mundo — e não apenas por uma temporada de festivais, mas como presença permanente.

Por Josephine Bourgois e Rachel do Valle